O encontro da tradição Húngara nas margens do Rio Danúbio

Tokaji e Unicum - Zwack Unicum

Como um antigo costume, antes de entrar na adega do Unicum, o sino deve ser tocado. No salão de entrada dá para sentir o seu perfume doce, levemente picante, um grande barril aberto ao centro, expondo as prováveis ervas medicinais e especiarias provenientes de todos os cantos do mundo. ‘Prováveis’ porque apenas a familía Zwack tem acesso à receita, os poucos empregados que trabalham na produção a conhecem parcialmente. As plantas, raízes ou sementes são, nesta ordem, destiladas ou maceradas, misturadas em um grande barril, adicionado o açúcar a esta mistura no tanque de produção e finalmente afinado por 6 meses em barril de carvalho.

Formulado em 1790 pelo Dr. Zwack, médico real para a corte imperial, com o objetivo de ser um remédio digestivo, a receita secreta teve mais de 40 ingredientes cuidadosamente selecionados. Em 1840, József Zwack, descendente do Dr. Zwack, abre a destilaria que se tornaria líder na Europa Central e que em 50 anos já exportava bebidas alcoólicas para todo o mundo. A Grande Depressão levou à redução da exportação da bebida nacional Húngara para os Estados Unidos e logo depois a fábrica foi destruída na Segunda Guerra Mundial, os irmãos Bela e Janos Zwack eram os guardiões da tradição. Após a sua reconstrução em 1948, ela foi confiscada pelo estado durante o comunismo e os Zwack, naquele tempo, tiveram que criar uma outra receita para não entregarem a fórmula de mãos beijadas. Depois do sucesso de um processo judicial contra os Kraus Brothers e o governo comunista para reter o direito às marcas registradas de sua família, o sucessor Peter Zwack, filho de Janos, começa sua produção na Itália.

Caminhando na adega entre os grandes barris, o que mais chama atenção é aquele com o número 1937, o mais antigo e ainda ativo. Um líquido espesso escuro pode ser visto em sua borda, chamado de ‘mel preto’. É alí que o Unicum também ganha o seu caráter único. A degustação é feita durante o tour pelos corredores, tirada na torneira do próprio barril. O primeiro é o Unicum tradicional, o menos doce e o que levou fama e prêmios à marca. Em seguida o Unicum Plum, afinado com ameixas secas, para aqueles que gostam de uma bebida com resultado aveludado e frutado, é o mais doce de todos. Logo o Unicum Barista, para amantes do café, um blend de Unicum e café Arábica 100%. Por último, localizado em uma sala separada, o Unicum Riserva, o blend de Unicum tradicional e nada mais nada menos Tokaji Aszú. Esse Unicum especial, repousa no barril do Tokaji por alguns anos, e no final desse periodo, acrescentam o Aszú 6 puttonyos da vinícola Dobogó, de Izabella Zwack (6ª geração), trazendo elegância e nobreza ao Riserva. Vale ressaltar que todas essas quatro versões são realmente únicas em suas características.

No final da visita guiada, os visitantes tem acesso ao museo e à loja com produtos da vinícola Dobogó, vários outros vinhos, todos os tipos de Unicum, garrafas de 100ml para viagens e souvenir. No pátio interno dois grandes murais de propaganda do inicio do século 20, vestígios de originalidade e sucesso em uma época conturbada. A visita ao Zwack Museum é uma viagem no tempo, ao mundo autêntico, criativo, reinventivo, e mais que tudo perseverante.

18/07/2023

Isabelle Tabacchi

sottospiritus@gmail.com