Arneis: A Colina dos Pássaros

Bricco delle Passere - Tibaldi


Durante o Roero Days do Consorzio del Roero em Roma eu tinha um objetivo principal, encontrar um bom Roero Arneis e já de primeiro encontrei o Roero Arneis Bricco delle Passere e Monica Tibaldi. 

Monica e sua irmã Daniela estão à frente da Tibaldi e produzem Barbera d’Alba DOC, Langhe Nebbiolo DOC, Roero DOCG, Langhe Favorita DOC, Roero Arneis DOCG e método clássico Roero Arneis DOCG.  As duas fazem de tudo, trabalham na adega, nos vinhedos, na parte administrativa e ainda participam de feiras e exposições. A tradição familiar e a experiência em vinha, juntamente com as habilidades profissionais foram passadas pelo pai Stefano e pelo avô Tunin.

As vinhas crescem no terreno arenoso de Roero, no comune de Pocapaglia, que na época medieval era chamado de Roccapalea. A região produz Roero Arneis elegantes e Roero delicado, moderadamente tânico. O solo apresenta areia, rocha sedimentar de origem marinha e grande quantidade de calcário e argila. A marca principal da Tibaldi é a qualidade da uva, Monica e Daniela prezam pelo trabalho na vinha gerando um produto que exige uma menor interferência no processo.


Você conhece o Arneis?

Um vinhedo redescoberto nos anos 70, que teve sua história registrada no século 15 como Reneysium e Ornesium, na localidade de Renesio, perto de Canale d'Alba. No século 18 era vinificada como vinho doce e no início do século 20 era colocado ao lado do Nebbiolo para atrair os pássaros e não destruir a grande e versátil uva tinta, além de ser vinificado como vinho de mesa.


Bricco delle Passere, uma das 135 MGA (Menzioni Geografiche Aggiuntive) existentes em Roero, ou seja um Cru, um vinho proveniente de um único vinhedo. No dialeto piemontês, bricco significa o topo de uma colina e passere, quase como em português, um tipo de pássaro. Coincidência ou não, é impossível não fazer comparação à história do Arneis que era plantado perto do Nebbiolo, porém não existe nenhum registro que ligue o nome dessa MGA ao utilizo da videira no século 20. Obviamente o terreno é arenoso, característica do Roero, com presença de margas calcárias.

Tibaldi extrai as substâncias mais nobres do Arneis, as uvas selecionadas passam primeiro por uma maceração à frio, uma técnica muito utilizada na Borgonha antes da fermentação. Em seguida a fermentação é iniciada pelas leveduras indígenas e finalmente o vinho permanece sur lie por 10 meses e por mais alguns meses na garrafa. O resultado é um vinho sincero, autêntico, típico do território, uma expressão do Roero rico em notas balsâmicas, principalmente a hortelã, com um toque de capim-limão e frutas cítricas.

Monica também sugeriu-me o Roccapalea para degustação, um Roero DOCG, que vem de um solo calcário-argiloso, passa por frequentes rimontaggi, que seria o bombeamento das substâncias que se depositam no fundo do tanque para a superfície, permanece por um longo período em madeira de tostagem leve. O Roccapalea me surpreendeu com aromas intensos, taninos delicados e aveludados.

O Bricco delle Passere e o Roccapalea são vinhos de boa estrutura, corpo e complexidade, equilibrados e agradáveis, distinguem-se pela sua elegância. Podem ser guardados por alguns anos e apresentarão interessantes surpresas. Monica e Daniela, produtoras independentes, não só preservam a história da origem do Arneis e do Nebbiolo, mas elas mesmas fazem parte da história vitivinícola de qualidade do Piemonte e do lado esquerdo do rio Tanaro, o Roero.


07/07/2023

Isabelle Tabacchi

sottospiritus@gmail.com


Roero Days Roma 2023
Roero Days Roma 2023